terça-feira, 21 de outubro de 2014

Fotógrafo ‘caça’ clarões de tempestades

Thomas Ashcraft /  

Durante o verão, Thomas Ashcraft recebe diariamente, às 19h, um boletim climático personalizado. Ele busca orientações sobre onde procurar tempestades robustas, do tipo que costuma se formar na parte oeste da região das Planícies Altas nessa época do ano.

Munido de câmeras sensíveis e radiotelescópios, Ashcraft caça “sprites” —majestosas emanações de luz que lampejam por um instante acima das nuvens carregadas (as cúmulos-nimbos), aparecendo na forma de águas-vivas, cenouras, anjos e brócolis. Não há duas delas que sejam iguais entre si.

As “sprites” são imensas: têm dezenas de quilômetros de largura e 50 quilômetros de alto a baixo. Mas, como aparecem e somem numa fração de segundo, a olho nu são percebidas somente como lampejos. Não se sabe como, ou mesmo se, elas afetam a física e a química da atmosfera.

Ashcraft pode obter apenas duas imagens de “sprites” numa noite ou mais de 300. Parte de um crescente grupo de cidadãos envolvidos em áreas que vão da astronomia à zoologia, ele envia suas melhores imagens para Steven Cummer, professor de engenharia elétrica e da computação na Universidade Duke, em Durham, na Carolina do Norte. Cummer lidera um projeto chamado Phocal, cujo objetivo é capturar imagens de “sprites” a partir de múltiplos lugares, a fim de triangular sua posição em relação ao relâmpago que as cria.

As “sprites” só passaram a ser documentadas a partir de 1989, quando um cientista de Minnesota acidentalmente captou uma delas em vídeo. Ninguém sabia o que fazer com elas. “Era como se a biologia tivesse descoberto uma nova parte do corpo”, disse Walter Lyons, ex-presidente da Sociedade Meteorológica Americana. Seu site, chamado WeatherVideoHD.tv, monitora “sprites” e outros eventos meteorológicos incomuns. As pessoas se referem às “sprites” como “relâmpagos-foguetes”, “relâmpagos para cima”, “relâmpagos das nuvens para a estratosfera” e até mesmo de “relâmpagos das nuvens para o espaço”, segundo ele. Esses estranhos raios receberam o nome de “sprites” (espíritos, ou entes fantásticos), tendo como inspiração os misteriosos personagens chamados dessa maneira em “A Tempestade”, de Shakespeare.

As “sprites” se formam na mesosfera, porção pouco estudada da atmosfera, situada 50 a 80 quilômetros acima da superfície terrestre —muito alta para o voo de aviões, mas muito baixa para que satélites aí orbitem. Sabia-se que estavam relacionadas a tempestades com trovoadas e relâmpagos, mas não mais do que isso, segundo Lyons.

Nem todas as tempestades com trovoadas produzem “sprites”, mas aquelas que o fazem apresentam um tipo de relâmpago com carga elétrica positiva —a qual, por razões ainda não compreendidas, tende a ser mais poderosa do que a dos raios carregados negativamente.

Quando um raio positivo lança uma grande descarga elétrica no solo, o campo elétrico na rarefeita atmosfera mais acima se expande simultaneamente e, em milésimos de segundo, se decompõe para formar uma imensa faísca —uma “sprite”— a cerca de 70 quilômetros de altura.

Então, a “sprite” gera bolas de ionização do tamanho de uma casa, que se aceleram para baixo, depois para cima, a 10% da velocidade da luz, estimulando as moléculas de nitrogênio que brilham em azul ou vermelho, dependendo da pressão em diferentes altitudes.

Ashcraft, 63, artista e caçador de “sprites”, trabalha em um barracão de madeira. Seis câmeras estão fixadas no telhado, algumas delas modificadas para capturar a luz das partes do espectro em infravermelho ou próximas do infravermelho, onde as “sprites” são mais visíveis. Graças à altitude de 2.100 metros e à atmosfera extremamente clara nesse local, suas câmeras podem enxergar a quase mil quilômetros de distância, em todas as direções, nos céus de Wyoming, Kansas, Nebraska, Oklahoma, Arizona, Utah, norte do México e, claro, todo Novo México e Colorado.

Quando Ashcraft recebe a informação de que tempestades estão se formando, ele checa imagens de radar no site Weather Underground para localizar os temporais mais pesados, sobe até o telhado usando uma escada de alumínio, verifica a bússola em seu smartphone e aponta as câmeras na direção da tempestade. “Desenvolvi um jeito de conseguir a altitude certa”, disse ele.

Se as câmeras estiverem adequadamente alinhadas à tempestade, ele pode captar um coro dançante de lampejos luminosos. “Estou me esbaldando com as ‘sprites’”, afirmou.

Fonte: Gazeta do Povo
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