sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

220 mil raios caem por ano no Ceará; foram 54 mortes desde 2000


O carpinteiro Eleriano de Oliveira Neto, 57, até hoje não sabe como se formou o raio que tirou a vida do filho Reginaldo, há 15 anos, no município de Granja, a 300 km da Capital. “Os perigos que vêm de cima, ninguém sabe dizer o porquê”, afirmou. Desde 2000, 54 pessoas morreram em função desse tipo de descarga elétrica no Ceará. O Estado registrou uma média de 220 mil raios por ano. Em 2014, foram dois óbitos. A incidência do fenômeno no Estado é uma das dez menores do Brasil. Porém, o número de mortes indica que ainda há poucas informações e medidas preventivas, principalmente no interior.

Eleriano mora na cidade que ocupa o segundo lugar no ranking cearense de densidade de descargas, que é de 4,22 raios por km² ao ano. Pacujá, a 309 km de Fortaleza, está em primeiro lugar, com densidade de 4,77 km²/ano. De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a densidade média de raios no Brasil é de seis raios por km² ao ano, enquanto que no Ceará é de 1,37 e, em Fortaleza, de 0,37.

Entre 2000 e 2014, foram 1.792 mortes no País, sendo 82% das vítimas homens, 43% com idades entre 14 e 24 anos. Em 24% dos casos a ocorrência foi em atividades rurais, enquanto 17% foram dentro de casa.

“Ele vinha do roçado, de bicicleta, com mais três meninos. Não tinha nem chovido ainda, só estava bonito (pra chover). Os outros caíram, mas só ele morreu. Não adiantou nem levar ao hospital. Algo assim acontece todo ano. Na mesma época, um raio entrou numa casa e pegou cinco pessoas da mesma família”, contou Eleriano. A morte do filho com apenas 12 anos de vida fez o pai ser mais precavido e, hoje, basta começar a chover que os equipamentos elétricos são desligados da tomada e o conselho aos netos é que não saiam de casa.

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Perigo no Interior

O professor do departamento de energia elétrica da UFC, Tomaz Nunes Cavalcante Neto, explicou que no interior não existem os Sistemas de Proteção de Descarga Atmosférica (SPDA). “Na zona rural, a maioria das edificações é construída sem essa preocupação. Os dispositivos, os para-raios, quase nem existem. Isso pode explicar o maior número de ocorrências”, apontou. Para o especialista, as 54 mortes representam um número elevado, considerando que o Ceará não tem grandes áreas de florestas e precipitações contínuas.

“Maranhão e Piauí, por exemplo, possuem mais deste tipo de vegetação. O Maranhão está quase no Norte do Brasil. O raio acontece quando tem umidade da chuva. Quando tem muita umidade, a água será um excelente condutor de energia”, detalhou Tomaz. O perigo de danos em zonas urbanas também existe. “A poluição, junto à umidade, cria uma condição favorável para a descarga”, frisou.


Saiba mais

Dicas do Corpo de Bombeiros para quando houver tempestade:

Não entrar em contato com materiais ou estruturas.
Procurar se abrigar dentro de um carro, com as janelas fechadas e sem contato com partes metálicas.

Não se aproximar de árvores isoladas, antenas ou torres.
Não permanecer dentro d’água.

Desligar todos os aparelhos eletrodomésticos das tomadas.
Evitar estar a bordo de embarcações de pequeno porte.

Fonte: Jornal O Povo
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