quinta-feira, 30 de julho de 2015

Missão para encontrar vida inteligente vacila


Há quase 20 anos, a revista "Bioastronomy News" organizou e publicou um debate entre dois luminares da esfera científica a respeito da probabilidade de êxito do programa Busca por Inteligência Extraterrestre (Seti, na sigla em inglês). Carl Sagan deu sua resposta padrão: com bilhões de estrelas em nossa galáxia, deve haver outras civilizações capazes de transmitir ondas eletromagnéticas. Ao examinar o céu com radiotelescópios, poderíamos interceptar algum sinal.

Oponente de Sagan, o biólogo evolutivo Ernst Mayr apresentou seus próprios números astronômicos: entre os bilhões de espécies que viveram e morreram desde que a vida teve início, apenas uma -a Homo sapiens- desenvolveu uma ciência, uma tecnologia e curiosidade para investigar as estrelas. E isso demandou cerca de 3,5 bilhões de anos de evolução. A inteligência complexa, concluiu Mayr, é extremamente rara aqui e em qualquer outro lugar. A forma de vida mais abundante na Terra é o limo unicelular.

Desde o debate, mais de 1.700 planetas foram descobertos além do sistema solar -700 deles apenas neste ano. Astrônomos calculam que uma entre cada cinco estrelas semelhantes ao Sol na Via Láctea pode ser orbitada por um mundo capaz de sustentar algum tipo de vida.

Isso equivale a cerca de 40 bilhões de hábitats potenciais. Porém, Mayr, que morreu em 2005, provavelmente não ficaria impressionado. Pelos seus cálculos, as chances ainda seriam muito baixas de haver algo além de mundos viscosos. Por ora, não surgiu evidência que derrube sua teoria.

Alguns cientistas dizem que o problema é que não estamos procurando com o devido afinco. Desde sua criação, no início dos anos 1960, o programa Seti tem lutado para obter as verbas necessárias para monitorar inclusive pequenos quadrantes do céu. Em um ensaio on-line em meados de agosto, Seth Shostak, o astrônomo-chefe do Instituto Seti, lamentou a escassez de recursos financeiros para a busca -apenas uma fração do orçamento da Nasa.

Já se passaram mais de 3,5 bilhões de anos desde que as primeiras células simples surgiram, e foram precisos outros bilhões de anos para que algumas delas evoluíssem e se unissem simbioticamente em organismos multicelulares primitivos. Por meio de mutações, essas colmeias bioquímicas acabaram gerando seres aptos a se recordar, prever e -ao menos no caso dos humanos- a se perguntar o que tudo significa.

Cada passo foi aleatório, como a combinação arbitrária de números que ganha uma loteria. Em "Wonderful Life", Stephen Jay Gould especula que se um ser coleante chamado Pikaia gracilens não tivesse sobrevivido à extinção cambriana, cerca de 500 mil anos atrás, todo o filo dos cordados, que inclui os vertebrados como nós, poderia jamais ter existido.

"Escapamos por muito pouco milhares e milhares de vezes de não existir caso, a história houvesse dado uma guinada para outro canal sensível", escreveu Gould. Outros biólogos discordam da conclusão de Gould. No decorrer da evolução, os olhos e a multicelularidade já surgiram independentemente. Então, por que isso não se aplicaria a vértebras, medulas e cérebros? Quanto maior o arsenal de recursos que um organismo tem à sua disposição, maior será sua chance de sobrevivência.

Conforme os argumentos de Daniel Dennett em "Darwin's Dangerous Idea", a maioria dos organismos parece ter "chegado a uma solução relativamente simples para os problemas no início da vida, agarrou-se a ela um bilhão de anos atrás e desde então não teve muito controle sobre o que ocorreu". Nossa apreciação da complexidade, escreveu ele, "pode ser ditada apenas por uma preferência estética."

Em "Five Billion Years of Solitude" [Cinco bilhões de anos de solidão], de Lee Billings, publicado no ano passado, Frank Drake, um dos pioneiros do Seti, afirmou: "Neste exato momento, mensagens vindas das estrelas podem estar entrando nesta sala e passando por você e eu. E se tivéssemos o receptor certo acoplado adequadamente, nós conseguiríamos detectá-las."

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