Mesmo diante de avanços em torno da terapia e da eficácia do tratamento, a eletroconvulsoterapia ainda é um tema bastante divergente entre a sociedade e a própria comunidade médica. Além das questões que envolvem o próprio procedimento com induções elétricas, o caráter pontual da terapia também é questionado. Conselho Federal de Psicologia é contrário à técnica.
"O uso não só da ECT mas de outras medicações ainda são propriedade do saber médico. Até que ponto a equipe biopsicossocial mais ampla está integrada neste debate? A gente sabe que hoje em dia a técnica é reconhecida pela associação brasileira de psiquiatria mas a carga da estimulação é a mesma, quantas cargas vão ser ser necessárias para tirar uma pessoa de uma crise?", questiona Jureuda Duarte Guerra, especialista em Saúde Mental e integrante do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Conforme ela, o tratamento não acompanha questões externas ao paciente como o ambiente onde vive, os gatilhos de crises ou a família, por exemplo. Jureuda considera a prática pontual e isolada. Ela defende que as terapias em torno da depressão precisam ser multidisciplinares e ressalta o uso indiscriminado feito em anos anteriores. Além disso, a psicóloga critica que é preciso mais investimento em políticas públicas de saúde mental.
O tratamento de ECT é feito unicamente em âmbito particular e em algumas instituições educacionais a nível de pesquisa. Nem o Sistema Único de Saúde (SUS) e nem a Saúde Suplementar utilizam a eletroconvulsoterapia, salvo casos em que beneficiários ganham o direito do tratamento em processos judiciais para o caso deste último. Na rede privada o valor é alto, cerca de R$ 1000 cada sessão.
Atualmente, no SUS, a legislação vigente é a chamada Lei Paulo Delgado (2001/10.216), que não só não arca com o tratamento como premia hospitais que não utilizam a ECT. André Gadelha, único psiquiatra no Ceará a realizar o procedimento, discorda da legislação. Ele é médico do Hospital Mental de Messejana e acredita que inclusão do tratamento seria de grande benefício.
"A gente precisaria muito ter isso no Sus, é um tratamento que reduz tempo de internação, reduz índice de suicídio, reduz até custo no próprio sistema de saúde", diz. Ele explica que a margem de preço cobradas em ambiente privado se dá principalmente para a manutenção dos aparelhos de indução, monitoração e o pagamento dos três profissionais presentes. Conforme ele divergências interferem inclusive em avanços nas pesquisas. "Pesquisas neste sentido ainda recebem bem menos financiamento", diz. Conforme ele, uma das tentativas de desestigmatização do tratamento é na formação de novos residentes. "Tento mostrar as variáveis para uma avaliação do método sem preconceito"
André explica que a necessidade de um atendimento multidisciplinar não é uma divergência. "Seria uma ingenuidade e uma estupidez minha achar que a gente iria conseguir resolver uma coisa dessas só com intervenção biológica. Todas as vertentes são bem vindas", conclui. (Eduarda Talicy)
Fonte: Jornal O Povo