A seca do Nordeste, conforme especialistas, é determinada por fatores climáticos globais e agravada por condições locais, como a capacidade de armazenamento e distribuição da água |
A condição natural de se localizar no semiárido é o fator principal para que o Nordeste seja caminho de estiagens. Mas não é o único elemento que influencia na falta d´água para a região. “A seca do Nordeste é determinada por fatores climáticos globais e agravada por condições locais”, observa Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo. “A questão da falta de água depende de vários fatores, passando pela condição climática como pano de fundo e envolvendo o uso da água, seu armazenamento e a capacidade de distribuição”, atenta.
“Se você já tem pouca disponibilidade de água, tem que trabalhar com a melhor gestão possível”, orienta Frederico de Holanda Bastos, professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Ceará e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Ações em conjunto, pondera, dão mais fôlego à convivência com o semiárido. E o Estado, exemplifica, “tem conseguido avanços significativos a partir da adoção dos comitês de bacias hidrográficas. Mas, historicamente, no Nordeste, não é (verificado) bom exemplo de gestão”.
Na avaliação da professora Maria Assunção Faus, “é mais fácil e eficiente resolver o problema de distribuição de água nas cidades, pois a população está concentrada. Nos sertões, a população é mais difusa, há pequenas comunidades espalhadas por grandes regiões que tornam a logística e o custo de distribuição de água muito mais complexos”.
Ações
As secas impactam, diretamente, as reservas hídricas que garantem o abastecimento das sedes urbanas. “Este ano, chegamos, em algumas áreas do Estado, com reservas da ordem de 3%. Isso fez com que o Estado inovasse na resposta emergencial, adotando o sistema de adutoras de engates rápidos (adotado durante a guerra no Iraque) para dar maior garantia a este abastecimento”, equilibra Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins, presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Mas as ações emergenciais não podem ser a regra em uma situação recorrente. Com a implementação do Monitor das Secas do Nordeste, pretende-se renovar a convivência com o semiárido, aprofundar o relacionamento. “Um dos eixos da convivência com o semiárido é a adaptação e preparação ao evento crítico da seca, que é uma realidade da região. É preciso investir em planos de preparação para as secas, desde o regional até o local, já que são ferramentas de gestão que avaliam as vulnerabilidades, fazem um monitoramento específico das secas e estabelecem ações de curto, médio e longo prazo para serem efetivadas à medida que a seca avança e aumenta em severidade”, indicam Erwin De Nys, especialista sênior em Recursos Hídricos/Banco Muncial e Carmen Molejón, especialista em Recursos Hídricos. (Ana Mary C. Cavalcante)
NÚMERO
3% Foi a reserva hídrica registrada em algumas regiões do Ceará em 2014
Fonte: Jornal OPovo